Estudo amplia o poder explicativo de teoria que prevê interação de matéria densa com campos gravitacionais fortes
Ilustração da fusão de duas estrelas de nêutrons, cenário em que a teoria Israel-Stewart explica a movimentação de fluido viscoso
NSF / LIGO / Sonoma State University / A. Simonnet
Em artigo
a ser publicado no periódico Physical Review Letters,
três físicos brasileiros provaram dois teoremas matemáticos que reforçam a
chamada teoria Israel-Stewart, concebida nos anos 1970 para prever a interação
de fluidos viscosos – líquidos, gases ou plasmas que apresentam resistência a
seu fluxo – movendo-se a velocidades próximas à da luz e interagindo com campos
gravitacionais extremamente fortes. Os cálculos feitos pelos pesquisadores
demonstram a compatibilidade da teoria de Israel-Stewart com a relatividade
geral de Albert Einstein (1879-1955), inclusive para situações em que o
espaço-tempo é curvo e há formação de matéria ultradensa. Um exemplo é a
colisão, seguida de fusão, de duas estrelas de nêutrons, corpos celestes
extremamente compactos e energéticos.
“A viscosidade é uma
característica universal dos fluidos que descreve sua resistência ao fluxo,
como ocorre quando o mel escorre nas paredes de um recipiente. Fenômenos
semelhantes também estão presentes nas fusões de estrelas de nêutrons”, explica
Jorge Noronha, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), um
dos autores do trabalho. “Embora existisse uma expectativa grande na comunidade
científica de que as equações de Israel-Stewart pudessem ser usadas para
estudar esse fenômeno, até a publicação do nosso trabalho ninguém sabia se elas
de fato estavam corretas se fossem aplicadas nesse caso”, diz Marcelo M. Disconzi,
da Universidade Vanderbilt, em Nashville, nos Estados Unidos, coautor do
estudo. O terceiro nome a assinar o trabalho é Fábio S. Bemfica, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Desde os anos 1940, várias
propostas para formular uma teoria de fluidos viscosos compatíveis com as
ideias de Einstein foram feitas. Essas tentativas, no entanto, esbarravam
sempre em um problema: violavam o princípio de causalidade, fundamental na
teoria da relatividade. Há quase meio século, os físicos Werner Israel,
canadense, e John Stewart (1943-2016), britânico, resolveram, aparentemente de
forma parcial, o problema ao criarem uma teoria que estava em harmonia com a
relatividade em certas situações. Mas as soluções propostas pareciam simplistas
demais para prever consistentemente como fluidos viscosos se comportam quando a
estrutura do espaço-tempo pode se dobrar e formar singularidades, regiões em
que a matéria e a energia se comprimem em um único ponto. “Nossa prova
matemática mostra que a teoria de Israel-Stewart é poderosa o suficiente para
descrever o transporte de matéria nesse cenário extremo”, comenta Noronha.
Projeto
Física hadrônica em colisões nucleares de altas energias (nº 17/05685-2) Modalidade Projeto Temático; Pesquisador responsável Jun Takahashi (Unicamp); Investimento R$ 1.644.757,82.
Física hadrônica em colisões nucleares de altas energias (nº 17/05685-2) Modalidade Projeto Temático; Pesquisador responsável Jun Takahashi (Unicamp); Investimento R$ 1.644.757,82.
Artigo
científico
BEMFICA, F. S. et al. Causality of the Einstein-Israel-Stewart Theory with bulk viscosity. Physical Review Letters. No prelo.
BEMFICA, F. S. et al. Causality of the Einstein-Israel-Stewart Theory with bulk viscosity. Physical Review Letters. No prelo.
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