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domingo, 26 de julho de 2009

A ciência vai à favela

Museu da Maré, o primeiro do Brasil dentro de uma comunidade, recebe mostra científica
Fernanda Prates

A ciência está buscando uma aproximação maior com o povo.

Pelo menos é que está acontecendo no Museu da Maré, o primeiro museu do Brasil a ser instalado dentro de uma favela. A instituição, que tem um acervo permanente que retrata o dia-a-dia da comunidade, está recebendo esta semana a mostra científica “Caminhos do Passado, Mudanças no Futuro”.

– Iniciativas deste tipo são importantes pois trazem a possibilidade de acesso à informação de qualidade para uma população que não tem contato fácil com este tipo de conhecimento – diz Ismar de Souza, do Departamento de Geologia da UFRJ, um dos organizadores da exposição, que tem parceria com a Casa da Ciência da UFRJ.

Adriana Vicente, produtora cultural da Casa de Ciência há 15 anos, acredita que esse tipo de exposição ajuda no sentido da popularização do conhecimento científico.

– A mostra desperta interesse acerca das coisas da ciência. Ela permite que as pessoas da comunidade possam vislumbrar outras realidades, inclusive no âmbito profissional – diz.

A mostra “Caminhos do Passado, Mudanças no Futuro” retrata as mudanças geológicas que ocorreram no território brasileiro nos últimos 150 milhões de anos. O visitante poderá atravessar uma floresta Jurássica, se deparar com crocodilos, fósseis e rochas. Haverá também oficinas, jogos e cursos.

Localizado logo na entrada do Complexo da Maré, num dos acessos à comunidade pela Avenida Brasil, o museu tem um acervo permanente formado, principalmente, por fotos, documentos e relatos da própria comunidade.

Criado a partir de uma parceira entre o Ministério da Cultura e o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), o museu tem como proposta não só trazer exposições prontas, mas manter e ampliar um acervo construído a partir de contribuições dos moradores. O Museu da Maré busca valorizar a identidade do complexo.

– Sabendo de sua história, o morador passa a se identificar com a realidade, e cria um vínculo com a comunidade, uma relação de pertencimento – diz Luiz Antônio Oliveira, um dos idealizadores e diretores do Museu.

O Complexo da Maré tem mais de 130 mil habitantes, aproximadamente 16 comunidades e mais de 60 anos de existência. Mas só há três anos, graças a uma iniciativa de seus próprios moradores, a favela encontrou um meio para narrar sua extensa biografia com a criação do Museu da Maré. Essa participação, aliás, é essencial, pois o estabelecimento funciona em grande parte graças aos voluntários da Maré.

João Batista, de 22 anos, é um desses voluntários. Morador da comunidade desde os cinco anos, ele trabalha como coordenador educativo para as crianças há três anos, e diz ter sentido a diferença no local: – Antes as pessoas não sabiam que a favela tem história, agora elas têm uma identidade como moradores locais.

Mario Chagas, diretor do Departamento de Processos Museais do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e um dos encorajadores do projeto, é um entusiasta do lugar: – Trata-se de um museu capaz de produzir impactos sociais e provocar o esgarçamento de fronteiras imaginárias – diz.

O Museu fica na Avenida Guilherme Maxwell, 26: é só pegar a Avenida Brasil, sentido CentroZona Oeste e entrar na primeira à direita após o Quartel do Exército (CPOR), que fica na altura da passarela 7. A exposição fica em cartaz até 29 de novembro, de terça a sexta (das 9h às 20h) e aos sábados, domingos e feriados (de 10h às 18h). Todos os cariocas estão convidados.

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