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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

FSM


Marcos Apuriña, líder indígena de Rondônia

Entrevista: "Nós não impedimos a defesa do território nacional, mas sim, ajudamos a preservar a biodiversidade", diz líder indígena - 30/01/2009 Local: São Paulo - SP Fonte: Amazonia.org.br Link: http://www.amazonia.org.br/
Fabíola Munhoz
Marcos Apuriña, líder indígena de Rondônia Marcos Apurinã, líder do povo indígena Apurinã, concedeu ao Amazônia.org.br uma entrevista exclusiva. Nela, ele aborda assuntos como imagem dos índios frente à opinião pública, demarcação de terras e ações dos povos indígenas. Confira.
Qual sua expectativa com relação ao Fórum Social Mundial?Marcos Apurinã - É fazer uma articulação e fortalecimento do combate ao desmatamento pela conscientização. Ontem a [Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira] Coiab lançou uma campanha que quer conscientizar as pessoas sobre por que manter a floresta é importante e também o papel dos povos indígenas quanto à floresta.
Muitas conversas em nosso país dizem que os indígenas atrapalham o crescimento do país e queremos mostrar que é justo o contrário. Ao contrário do que fala a mídia, nós não impedimos a defesa do território nacional, mas sim, ajudamos a preservar a biodiversidade e protegemos as áreas de fronteira que nossa terra indígena tenha com outros países. Essa campanha é, portanto, focada nisso, na importância do nosso papel. Mas, uma coisa importante é que não iremos arredar um só milímetro das terras que são nossas. Nosso meio de vida é na floresta, não queremos viver na cidade.
Quais as maiores dificuldades que o povo apurinã enfrenta hoje? Marcos Apurinã - 60 % de nossas terras em Rondônia já estão demarcadas. Porém, o restante está em fase de reconhecimento. Nos falta meio de vida sustentável e meios para que possamos fiscalizar nossa terra. A Funai [Fundação Nacional do Índio], que a princípio teria esse papel, está muito desestruturada e é atualmente incapaz de nos ajudar a viver bem e de acordo com nossa cultura.
Precisamos de uma política que respeite a diversidade e seja de todos, não só de alguns. As políticas públicas de saúde e educação também precisam ter mais qualidade e atenção para com as características específicas de nosso povo. Sem estrutura nas aldeias, quando os jovens atingem certa idade vão às cidades estudar e, por dificuldade para se adaptar ao meio estranho a eles, acabam se envolvendo com vícios e prostituição.
Queremos defender nossos valores e exigir educação fundamental completa dentro das aldeias. Em Javari, um índio morre por dia por problemas de saúde e doenças que os índios passaram a ter depois do contato com o branco sem a devida assistência e orientação para a prevenção de muitos dessas doenças. O governo federal sabe disso tudo, mas não resolve.
Qual a estratégia de vocês para que a luta de hoje não se perca com o fim do Fórum Social Mundial? Marcos Apurinã - Nós participamos da Coica, organização indígena sediada no Equador que nos serve de base, e estamos nos capacitando em mudanças climáticas e IIRSA para que possamos entender melhor o que é isso. Vamos dar continuidade a nossa luta depois do fórum e vamos continuar fazendo isso. No meio do ano passado estivemos em Barcelona, onde discutimos políticas de floresta. Também estivemos em Washington, em Nova Iorque, em reunião com a ONU [Organização das Nações Unidas].
Estamos nos preparando e pensando em formas de nos defender. Esse último ano foi o mais forte até agora em quantidade de encontros e articulação. E esse FSM é extremamente importante para a luta conjunta dos povos andinos, da America Latina. Todos os povos aqui hoje reunidos estão falando uma só língua. Sei que há diversidade, mas o objetivo é o mesmo, que o fim do desmatamento, a não-destruição dos recursos naturais a o reflorestamento. Por isso faz sentido essa articulação. Mas só falar e não fazer não vai adiantar, tem que haver atuação.
Vocês mantêm a esperança de inspirar o mundo com suas idéias e modos de vida dentro do modelo econômico que vivemos hoje? Marcos Apurinã - É claro que estamos esperançosos. Quando se podia imaginar que passado o ano 2000 ainda haveria índios no Brasil? Acharam que todos seriam exterminados, mas foi justo o contrário que aconteceu. Hoje temos na Amazônia 400 mil e poucos índios, enquanto se pensava que iríamos ser totalmente extintos.
Isso nos dá força para lutar e até o último índio, vamos continuar lutando pela preservação da floresta e pela defesa dos povos indígenas e de sua cultura. Acreditamos que outro mundo é possível, mas a consciência que temos, todos devem ter.
A esperança vai seguir se todos aceitarem o desafio que vem pela frente e tentando solucionar os problemas provocados por atitudes dos brancos, ouvindo os povos indígenas, que não desmatam, preservam e entendem a voz da floresta. Por isso estamos aqui, e por isso a Coiab divulgou o vídeo sobre Amazônia e povos indígenas aqui ontem. Para conscientizar aqueles que são ignorantes com a floresta sobre a necessidade de preservá-la.
Mais sobre o Fórum Lançado no ano de 2001, em Porto Alegre (RS), o Fórum Social Mundial é um espaço - plural, diversificado, não-governamental e não-partidário- que estimula o debate, a reflexão, a formulação de propostas, a troca de experiências e a articulação entre organizações e movimentos sociais, do âmbito local ao internacional, pela construção de um outro mundo, mais solidário, democrático e justo.
Milhares de pessoas do mundo inteiro se reúnem em Belém (PA) para discutir, entre outros assuntos, questões relacionadas ao meio ambiente, política e direitos humanos. Sempre com o lema "Um Outro Mundo é Possível", o fórum aproveita algumas das principais preocupações mundiais, entre elas o meio ambiente e as mudanças climáticas, para eleger como tema da edição 2009 a Amazônia.
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